Com este texto do fabuloso cineasta soviético Serguei Eisenstein damos encerramento ao ano "Charles Chaplin" em comemoração dos 100 anos de Carlitos no cinema.
"Nas ultimas sequências de O grande ditador é o próprio filme que se transforma numa tribuna.
"E o autor de O grande ditador tornou-se um tribuno nos comícios antifascistas. Ele convida a humanidade a levar avante a sua tarefa primordial: destruir o fascismo.
"Começo a anotar minhas reflexões sobre Chaplin em 1937.
"Em 1937 não havia ainda O grande ditador.
"E o seu alvo, a ignóbil imagem do fascismo, acabava de começar a despregar-se da lama e do sangue de seu próprio país para estender suas guerras ensanguentadas pela Europa.
"No mesmo ano, deixei de trabalhar no meu estudo sobre Chaplin: não fazia sentido. Compreendo agora: faltava O grande ditador para coroar a imagem de Chaplin como autor e como homem.
"Eis-nos enterrados até a cintura no sangue da guerra contra o fascismo. E eis-nos de braços com Chaplin, não mais somente como amigos, mas como irmãos de armas no combate contra o inimigo comum da humanidade.
"Um combate em que não há necessidade somente de baionetas, balas, aviões, tanques, granadas e morteiros, mas de uma palavra ardente, de uma grande obra de arte, de um temperamento apaixonante de satírico cujo riso mata.
"E eis que hoje, pelo mesmo sistema ou por outro, pelos mesmo processos ou então por outros, pelos mesmos meios a não ser que haja novos, voltando a contemplar amplamente a vida em que não há somente a ingenuidade, mas a profunda sabedoria da infância.
"Nosso Carlitos, nosso Chaplin, nos traz em O grande ditador uma esplêndida e mortal louvação à glória do Espírito Humano, vencedor da Desumanidade.
"Ele coloca-se desse modo no plano dos mais ilustres mestres da milenar batalha da Sátira contra as Trevas, no nível de Aristófanes de Atenas, de Erasmo de Roterdão, de Rabelais de Meudon, de Jonathan Swift de Dublin, François-Marie Arouet de Voltaire, patriarca de Ferney...
"E diante de muitos outros, se pensarmos nas proporções desse Golias da felonia, da crueldade e do embrutecimento fascista que o menor da corte dos Davis abate com a funda do seu riso, quero dizer: Charles Spencer Chaplin de Hollywood, que não chamaremos mais de Carlitos, o Garoto, Carlitos, o menino, mas em toda a extensão do termpo,
"Carlitos, o Grande."
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