"A propósito dos relógios e das horas, permitam-me trazer aqui uma recordação pessoal. No Palácio de Inverno, durante a filmagem de Outubro (1927), descobrimos um curioso relógio antigo cujo mostrador principal era ornado com uma guirlanda de pequenos mostradores cada um deles com uma inscrição de um nome de cidade - Paris, Londres, Nova York etc. - e que indicavam a hora correspondente desses lugares quando em Moscou ou Petersburgo, não sem bem, era tal hora. O aspecto desse relógio gravou-se em minha memória. Quando precisei por em destaque, no filme, o minuto histórico da vitória dos Sovietes, foi aquele relógio que me inspirou uma montagem original: a hora da queda do Governo provisório, indicada, imediatamente, segundo o meridiano de Petrogrado, foi por nós repetida em todos os mostradores em que se liam as horas correspondentes, segundo o meridiano de Londres, de Paris, de Nova York etc. Esta hora única na história e no destino dos povos repercutia através de uma quantidade enorme de publicações diversas como se unisse todos os povos num só bloco, na sensação desse instante que viu a vitória da classe operária. A ideia estava ainda reforçada pelo movimento circular da guirlanda dos mostradores, movimento que, aumentando e acelerando, soldava ainda plasticamente todas as diversas indicações de horas, na sensação de uma hora única da História..."
(EISENSTEIN, S. Reflexões de um cineasta. tradução: Gustavo A. Doria. Zahar Editores. Rio de Janeiro, 1969. p. 83)
(EISENSTEIN, S. Reflexões de um cineasta. tradução: Gustavo A. Doria. Zahar Editores. Rio de Janeiro, 1969. p. 83)
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