O
trabalho do cineasta que faz um filme de suspense não é somente o de contar uma
história através das imagens, mas também saber como lidar com o tempo. Como diria
Jean Epstein, o cinema é uma máquina de fazer tempo. Fazer tempo significa
saber moldá-lo, não somente repetir o tempo fenomênico. O trabalho de um
cineasta em um filme de suspense deve ser o de saber dilatar o tempo. Na cena
em que mostro para o espectador de que existe uma bomba debaixo da mesa, quanto
tempo deve levar para que o espectador veja a bomba e o momento em que percebem
que há uma bomba? E entre o momento em que descobrem a bomba e o momento em que
decidem o que fazer com ela?
No
cinema o tempo pode ser dilatado. Um segundo não precisa levar necessariamente
um segundo. Aquele segundo entre a bomba explodir e o herói do filme desliga-la
pode durar um pouco mais de tempo. É o tempo que o diretor do filme precisará
para entrar na mente do espectador e ditar o que ele deve sentir naquele
momento. É neste momento em que o espectador fica perturbado por não poder
fazer nada além de ficar sentado em sua cadeira esperando aquilo chegar ao fim.
Todo
este trabalho era ignorado pela crítica que não possuía qualquer conhecimento
sobre cinema. Na época os teóricos de cinema começavam a surgir, mas ainda não
haviam conquistado as universidades, ao contrário dos séculos de teoria
literária e de teoria de teatro que já existiam. Era muito mais fácil pegar todo
este conhecimento que já estava pronto e aplica-lo ao cinema. Na década de 1950
surgem os críticos franceses de diversas revistas influenciados por Henri
Langlois, diretor da cinemateca francesa, em que os filmes antigos começavam a
ser exibidos. Neste primeiro momento começaram os estudos sobre cinema, os
primeiro ensaios críticos sobre as obras e movimentos que já existiam ou que
estavam acontecendo. antes, a teoria de cinema era realizada por cineastas que
queria dar um caráter ao cinema que faziam. Agora ela passou a dar um caráter a
todo o cinema.
Neste
meio, as obras de Hitchcock foram redescobertas. Os críticos passaram a
assistir suas obras de perto e com bastante atenção, até notarem as
particularidades presentes no cinema do cineasta e que o transformavam naquilo
que alguns destes novos críticos chamavam de “cinema de autor”. Ainda na década
de 1950 dois jovens, que mais tarde viriam a tornar-se dois fundadores do
movimento que rejuvenesceu o cinema francês, a nouvelle vague, escreveriam um
ensaio sobre o cinema de Hitchcock: são eles Claude Chabrol e Eric Rohmer.
Poucos
anos depois, François Truffaut, um dos responsáveis pela “teoria do cinema de
autor” faria uma entrevista a Alfred Hitchcock com 500 perguntas que foram
transcritas para um livro. O livro gerou certo escândalo entre os críticos
estadunidenses que a sua publicação seria pior para a imagem de Truffaut (que
tinha como intuito transformar a imagem de Hitchcock de cineasta comercial para
artista) do que seu pior filme. Os comentários não poderiam estar mais
enganados. Após a publicação do livro, o culto em torno da figura de Hitchcock
somente cresceu. Seus filmes são estudados nos mais diversos campos do
conhecimento (da teoria de cinema à psicanálise), sendo que um deles conseguiu
destronar “Cidadão Kane” da posição de melhor filme já feito (lugar que ocupava
há 40 anos).
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