Negligenciei
voluntariamente ao curso de A queda da
casa de Usher todos os efeitos plásticos que poderiam permitir o
ultra-cinematográfico. Não procurei – se ouso me exprimir assim tão
pretensiosamente – o ultra-drama. Em algum momento do filme, o espectador
poderá reconhecer: a câmera lenta. Mas penso que, como eu à primeira projeção,
ele se surpreenderá com uma dramaturgia assim tão minuciosa. Porque é a
dramaturgia a alma própria do filme, de onde provém seu interesse. Estamos, tão
sutilmente como em literatura, próximos de reencontrar o tempo perdido.
Não
conheço nada de mais comovente como o retardamento de um rosto fornecendo uma
expressão. Toda uma preparação anterior, uma lenta febre, que não se sabe se se
compara a uma incubação mórbida, a uma maturidade progressiva ou, mais
grosseiramente, a uma gestação. Enfim, todo este esforço transborda, rompendo a
rigidez de um músculo. Um contágio de movimentos anima a face. As asas dos
cílios e o tufo do queixo batendo nele mesmo. E quando os lábios se separam,
enfim, para indicar o grito, assistimos a toda sua longa e magnífica aurora. Um
tal poder de separação do olho mecânico e ótico fez aparecer claramente a
relatividade do tempo. E é verdade que os segundos duram horas! O drama está
situado fora do tempo comum. Uma nova perspectiva, puramente psicológica, é
obtida.
Creio
nisso mais e mais. Um dia o cinematógrafo, o primeiro, fotografará o anjo
humano.
(publicado em Écrits sur le cinéma, tomo I, p. 191)
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