"Houve uma época em nosso cinema em que se proclamava que a montagem é tudo. Atinge-se hoje em dia o fim de um período onde a montagem não oferece maior importância. Sem admitir que ela seja tudo ou então nada, achamos necessário lembrar, agora, que a montagem faz intrinsecamente parte da obra cinematográfica, tendo a mesma importância que todos os demais elementos que contribuem para a eficácia dessa arte. Depois do Sturm em favor da montagem e o Drang contra, torna-se necessário atacar de novo os problemas que ela coloca. E essa necessidade impõe-se tanto mais quanto o período de negação destruiu até o aspecto mais incontestável da montagem, aquele que não deveria jamais suscitar o menor ataque. Os autores de uma série de filmes recentes 'relegaram' a montagem a ponto de esquecer a sua finalidade essencial e a missão que justifica qualquer obra de arte - missão inseparável do seu papel de conhecimento - de fornecer uma exposição logicamente coerente do tema, da história, da ação, dos comportamentos, do movimento dentro do episódio e dentro do drama, no seu todo. Mestres do cinema, às vezes bem eminentes, parecem em numerosos casos, nos mais diversos gêneros, ter perdido o sentido da narrativa continuada, lógica, isto é, simplesmente coerente (não nos referimos nem mesmo à narrativa patética). E tal fato obriga-nos se não a criticar aqueles mestres, pelo menos a lançar-nos imediatamente à batalha pela arte da montagem por demais esquecida. Ainda mais que a missão de nossos filmes não é somente contar com lógica e coerência, mas com o máximo de capacidade patética de emoção.
"A montagem representa uma poderosa ajuda na complementação daquela missão".
(EISENSTEIN, em Reflexões de um cineasta, tradução de Gustavo A. Doria, editora Zahar, 1969, p. 71 - 72)
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