quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Olney, um cineasta fora da festa

 [transcrição de entrevista dada para o jornal Folha de São Paulo, publicado em 17/05/1977]

texto de Tamar de Castro


"No momento em que a Embrafilme e o Ministério de Educação e Cultura iniciam as comemorações dos 80 anos do Cinema Brasileiro, é necessário lembrar que, se por um lado, o governo estimula a produção de filmes através da Embrafilme, por outra entrega o mercado exibidor praticamente inteiro ao filme estrangeiro."

A reclamação - que se junta a de todos os cineastas brasileiros - desta vêz é de Olney São Paulo. Seu filme "O Forte", baseado no romance do escritor Adonias Filho, estreou na última quinta-feira em São Paulo. Nos cines Metro I e Gemini II sem qualquer preparação publicitária por parte da Embrafilme - que é a co-produtora - "sem qualquer aviso ao diretor para que este, se quisesse ou pudesse, acionasse um mínimo de publicidade para a fita".

"Com uma produção anual entre 70 a 100 filmes, o cinema brasileiro vê apenas 10 por cento desse total chegar às casas exibidoras com uma certa dignidade. O restante da produção é acumulação para tapar buracos em relação à lei de exibição obrigatória.".

Apenas uns poucos produtores fortes ou associados a exibidores conseguem furar este verdadeiro bloqueio ao filme nacional. Mas todos os filmes de produção "independente" - 80 por cento da produção brasileira - caem neste esquema, segundo Olney.

"O exibidor, quando vê aproximar-se o prazo final para pagamento da lei dos 112 dias obrigatórios, pede à distribuidora ou à própria Embrafilme uma fita brasileira qualquer para exibição. Desta forma, abruptamente, sem publicidade, o filme brasileiro vai para as salas exibidoras. Depois, o exibidor alega que o filme não deu lucro e o tira rapidamente de cartaz".

O lançamento nas diversas praças de exibição também é realizado de maneira totalmente aleatória. "Um filme leva às vezes dois anos para ir de um Estado a outro".

"O Forte, por exemplo, foi lançado comercialmente em primeiro lugar na Bahia, em 1975, dando excelente renda. Mas isso de nada valeu e só depois de algum tempo na prateira, "O Forte" foi jogado em Brasília e Vitória (durante o carnaval". Agora chegou a São Paulo, devendo alcançar o Rio em agosto ou setembro".

"O mercado é o ponto vital da questão cinematográfica brasileira. Com um mercado potencial dos maiores do mundo, pouco adiantam incentivos governamentais ao nível de produção se os filmes não forem bem exibidos. E a recíproca não é verdadeira: se o mercado para filme brasileiro for bom, não são tão necessários os financiamentos da Embrafilmes. Uma vez que as fitas nacionais comprovadamente podem dar quatro vezes seu custo de produção, sempre terá gente investindo no cinema brasileiro", afirma Olney.

O primeiro longa-metragem de Olney foi "O Grito da Terra", lançado em São Paulo em 1965. O segundo, "Manhã Cinzenta", baseado nos conflitos estudantis de 1968, com cenas tomadas nas ruas do Rio, premiado na Alemanha Ocidental em 1970, na Semana Internacional de Mannheim, e interditado pela censura no Brasil.

Baiano, 40 anos, Olney formou-se como muitos outros cineastas de sua geração, na escola prática de documentários de curta-metragem. Segundo depoimento de Adonias Filho, o cineasta conseguiu transpor com felicidade a atmosfera carregada de "baianidade" de seu livro para o cinema.

"O Forte" - diz Olney - é uma história de amor, que aconteceu em um dos mais belos cenários do Brasil, a cidade de Salvador, com seus casarões coloniais, sua luz, seu mar, e o clima humano tão peculiar à terra".



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