direção: Spike Jonze;
roteiro: Spike Jonze;
fotografia: Hoyte van Hoytema;
estrelando: Joaquin Phoenix, Amy Adams, Scarlett Johansson, Rooney Mara.
Spike Jonze se apresenta no cenário atual do cinema estadunidense como um dos mais criativos cineastas de sua geração. Este é o seu quarto longa-metragem em uma carreira de quinze anos, desde sua estréia com o elogiadíssimo Quero ser John Malkovich. Mesmo sendo uma curta filmografia (ao menos em longas-metragens, já que ele possui uma longa lista de curtas) é possível notar algumas características presentes em seus filmes. A principal delas é a vontade do cineasta de mostrar o que se passa na mente de seus personagens. E esta vontade vai desde o absurdo de uma porta que transporta as pessoas para dentro da mente de John Malkovich no citado filme, até uma forma mais sutil, quando o cineasta entra no mundo fantasioso de uma criança em Onde vivem os monstros. É algo que constantemente encontramos na filmografia moderna, este desejo de despir o subjetivo do personagem com o auxílio de uma câmera e que em Jonze se encontra com uma vontade de levar este desejo a situações absurdas pelas quais os personagens passariam e por meio delas seus sentimentos seriam desnudados, não somente com o auxílio das expressões faciais do ator, mas com a construção do mundo que cerca o personagem.
Em Ela, temos a história de Theodore Twombly (Joaquin Phoenix) um escritor de cartas para outras pessoas. É o seu emprego que caracteriza o mundo em que vive, as pessoas que evitam o contato com as outras preferindo as facilidades da vida confortável que a tecnologia oferece, sem a necessidade de criar vínculos com pessoas e depois se desapontar. Theodore está em depressão devido a sua separação com sua esposa. Ele se esconde do resto do mundo para não voltar a sofrer novas decepções. Seu único escape é a amiga Amy (Amy Adams) que acabara de romper seu relacionamento com o marido.
Para poder fugir desta atmosfera pesada em que se encontra, Theodore encontra um consolo, um sistema operacional que é o sonho de Isaac Asimov, uma máquina com inteligência própria. Samantha (voz de Scarlett Johansson), nome que o sistema operacional do celular de Theodore se dera, torna-se sua grande companhia. Eles conversam a todo momento. Ela faz Theo rir e logo eles passam a viver uma paixão. O que é interessante nesta trama é a forma como ninguém acha estranho a relação amorosa entre o protagonista e seu computador, com exceção de sua ex-mulher que parece ser a única a enxergar nesta relação o escape do qual seu ex-marido necessitava do mundo real - viver com uma imitação de vida para não ter que enfrentar os problemas que se encontram nas relações com as outras pessoas.
Dentro deste mundo impessoal Spike Jonze procura os pedaços de vida que ainda existem nas pessoas. É assim que ele retrata Theodore, sempre buscando suas memórias afetivas e constantemente voltando no tempo para mostrar em cenas rápidas os momentos felizes com Catherine (Rooney Mara) sua ex-mulher. São nestes momentos em que o cineasta consegue encontrar os sentimentos de seu protagonista e apresentá-los na tela criando o lado emotivo de seu personagem. É a construção do personagem que aos poucos se apresenta em nossa frente. Theodore não está completamente formado logo na primeira cena de Ela, o que significa que ele irá se construir em frente aos nossos olhos à medida em que ele próprio se conhece.
A cena de seu encontro com Catherine é muito simbólica neste sentido: ele teme reencontrá-la devido a todo o passado que viveram juntos, dos tempos em que foram felizes, mas a sua verdadeira temeridade está na verdade que sua ex-mulher representa. Ela o conhece bem e saberá melhor do que qualquer pessoa (e talvez até mesmo do que a câmera) mostrar os medos de Theodore. Ela é a única pessoa que acha absurda a relação dele com um computador e mostra isso para ele: ele foge das relações com outras pessoas. O emocional de Theodore fica devastado depois desta revelação trazida por Catherine porque ela expõe toda a verdade que ele vinha temendo enxergar. Daí a cena mais interessante do filme em que nos é mostrado Theodore sentado de costas para uma tela gigante onde aparece uma coruja voando em sua direção como se fosse caçá-lo para comê-lo.
É um filme interessante desenvolvido por um diretor criativo que utiliza toda a inventividade da tradição do cinema estadunidense para desenvolver um filme com uma assinatura própria, sem a necessidade de criar um espetáculo de explosões e montagem acelerada para criar ritmo. Trata-se de um filme intimista que busca falar sobre o homem e suas relações cada vez mais impessoais neste mundo onde as tecnologias facilmente descartam quem pode criá-las.
2 comentários:
Escreveu todos os meus sentimentos a respeito do filme, a cena da coruja foi realmente perfeita, voltei várias vezes pra ver..é o tipo de filme que quando acaba, a gente ainda fica olhando para a tela..pensando...amei!
Realmente, Andrea, Spike Jonze é um cineasta muito inventivo que sabe nos envolver em seus filmes.
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