este texto faz parte da série "Lendo as imagens do cinema", publicado aqui no blog
Com um punhado de cenas marcantes e canções que fazem parte do imaginário de cinéfilos do mundo todo, "Cantando na Chuva" é, indiscutivelmente um clássico. Um daqueles filmes simples que cativam o espectador justamente por sua simplicidade.
A análise a ser feita aqui é a da cena mais famosa do filme, a dança na chuva.
Don Lockwood (Gene Kelly) sai da casa de sua namorada, Kathy Selden (Debbie Reynolds), sem conseguir conter a felicidade dentro de seu peito. Desce a escadaria do prédio e logo está a cantar e dançar na rua.
A escada é o ponto crucial de determinadas cenas que marcaram o cinema nestes seus cem anos de história. A escada é aquele elemento de transição, transição do local mais alto para o mais baixo. Aqui a escada assume o papel de manter o filme dentro da realidade que tentou traçar durante toda a metragem. Não é a realidade encontrada no mundo empírico, sensível. É a distinção platônica entre mundo sensível e mundo das ideias. A câmera, com seus super-poderes, nos permite ir para o imaginário do personagem. É na forma da dança que o personagem mostra aquilo que a olho nu não se poderia notar. Como coloca Gilles Deleuze: "é a maneira pela qual o gênio individual do dançarino, a subjetividade, passa de uma motricidade pessoal a um elemento suprapessoal"*. Os sentimentos do personagem são exteriorizados na forma da dança.
Quem disse que um musical não pode ser realista?
*DELEUZE, Gilles; A imagem-tempo; tradução: Eloisa de Araujo Ribeiro; editora brasiliense, São Paulo, 2007.
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