sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Viagem aos seios de Duília, de Carlos Hugo Christensen (1964)










dirigido por Carlos Hugo Christensen

roteiro de Carlos Hugo Christensen, Orígenes Lessa

baseado em conto de Aníbal Machado

fotografia de Aníbal Gonzalez Paz

com

Rodolfo Mayer

Nathália Timberg

Oswaldo Louzada

 Zé Maria trabalhou a vida inteira num trabalho burocrático onde todos ao seu redor conhecem precisamente sua rotina. Então, chega o dia da sua aposentadoria. Depois de décadas de trabalho, ele é forçado a deixar de se preocupar apenas com o serviço e buscar outra coisa para fazer.


Um filme de longos momentos de espera e silêncio da vida de um homem que vive à sombra de seu passado. A escolha estética do filme as vezes pode ser estranha, lembrando a atmosfera do filme noir, mas esse é o recurso para mostrar como Zé Maria se apaga em seu presente ao ter deixado os anos escaparem, tentando agora encontrar vida no passado. As muitas fusões são a insistência das imagens do passado insistndo em romper a barreira da memória. Logo, Zé Maria empreenderá uma aventura rumo ao passado, voltando para sua cidade inhame Natal de Porto Triste, em busca de Duília.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Olney São Paulo por ele mesmo (editora fi, 2024)


 

SOBRE A TRAJETÓRIA DO AUTOR

Em 1953, o crítico de cinema e cineasta Alex Viany aportou em Feira de Santana com uma equipe para filmar "Ana", episódio do filme internacional "Rosa dos ventos". Em seu elenco, trazia a já famosa Vanja Orico, recém-saída do sucesso de "O Cangaceiro".

Olney São Paulo, então com 16 anos, assistiu às filmagens, tentando se integrar à equipe, ao elenco, e aos figurantes. Descobria ali uma paixão: era mais do que um cinéfilo, era um aspirante a cineasta.

Estudava, então, no Colégio Santanópolis. Nas instalações da instituição existia o jornal de mesmo nome. Olney se aproxima dos diretores do periódico, propondo uma coluna de cinema. Nasce, em 1954, a Coluna Cineópolis (presente na coletânea acima), onde o cineasta documentava os filmes lançados na cidade, e seu aval à qualidade (ou não) das obras exibidas.

Ao mesmo tempo, escrevia uma coluna de crítica aos rumos que a alta sociedade feirense tomava. Em Causerie, Olney utiliava um heterônimo, "Conde d'Evey".

As críticas de Olney, em Causerie, incomodavam muitos leitores do Jornal Santanópolis, que em 1955 se transformou em O Coruja. O cronista apontava, com fortes doses de ironia, a emulação kitsch da burguesia feirense em suas tentativas de se aproximar das culturas metropolitanas europeias vistas nos filmes.

Com jogos de linguagem, Olney faz alusões a nomes e lugares da cidade, enquanto mascara o óbvio em suas narrativas divertidas de um Conde vivendo em meio à cidade do sertão. Denuncia a confusão identitária pela qual assava a cidade, a "Princesa do Sertão", que a elite queria transformar numa metrópole ocidental.

Estes conflitos seriam ainda por ele dirigidos no filme "Como nasce uma cidade", de 1973.

Em 1955, munido de uma filmadora 16mm emprestada e apenas um rolo de película comprada num cooperativa entre amigos, Olney se junta ao fotógrafo Elídio Azevedo e a Edson Campos para a gravação daquele que seria o primeiro filme a ser realizado em Feira de Santana, "Um crime na rua".

Com ausência de maquinário para fazer a montagem, as filmagens ocorrem na sequência do roteiro, sem a possibilidade de erro. Assim, Olney e companhia filmam uma história policial de seis minutos de duração se passando nas ruas do centro de Feira de Santana, passando por fachadas famosas como a do Feira Tênis Clube, assim como a famosa feira livre que dá nome à cidade.

"Um crime na rua" se transformou no currículo de Olney pelos anos seguintes. Carregava o rolo do filme junto para exibir aos potenciais produtores e investidores de outras produções. Foi assim que conheceu um adolescente Glauber Rocha, que havia proposto a criação de uma produtora de cinema na Bahia, assim como o mítico produtor Rex Schindler. Em suas colunas Cineópolis e Causerie, Olney faz breves menções sobre os encaminhamentos do filme.

Nesse meio tempo, fundou uma companhia de teatro amador em Feira de Santana, assim como um programa de rádio onde fazia comentário sobre cinema. Infelizmente, quanto a este último, não temos informações.

As aproximações com Rex Schindler dão a Olney esperanças de filmar a história de Lucas da Feira, ex-escravizado bandoleiro que libertava senzalas na região de Feira de Santana. Dado o alto custo de uma produção de época e o não retorno das produções de Schindler, o projeto foi engavetado. A respeito de Lucas da Feira, Olney publicou "ABC do enforcado", conto que compõe o livro "A antevéspera e o canto do sol", de 1969.

Suas relações com cineastas estavam cada vez mais próximas. No começo dos anos 1960, Olney se envolve com diferentes produções de longas-metragens de ficção. Faz assistência de direção do filme "Mandacaru vermelho", de Nelson Pereira dos Santos, abrigando a equipe do pai do Cinema Novo quando ela veio à Bahia durante a primeira tentativa de filmar "Vidas Secas". Em seguida, compõe a equipe de "O Caipora", filme de Oscar Santana.

A experiência com produções de longa-metragem levam Olney a dar um salto radical em suas tentativas. Em 1963, inicia as tratativas para uma produção. Convence o romancista Ciro de Carvalho Leite a produzir um de seus romances para o cinema. O influente escritor consegue as verbas junto a empresários locais para a realização de um longa-metragem de ficção.

Algumas particularidades envolvem este relacionamento. O livro de Ciro de Carvalho Leite a ser adaptado ainda não havia sido publicado, então seu título original é modificado para abrigar o nome do filme, "Grito da terra". Um raro caso em que a obra cinematográfica influencia também a obra de origem.

Olney toma claras liberdades na escrita do roteiro do filme, ampliando algumas personagens, criando novas, e incluindo um debate acerca da reforma agrária, que já podia ser encontrado em alguns de seus contos publicados em jornais e revistas.


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