quarta-feira, 10 de julho de 2013

Jean Renoir



"A expectativa apavorante da guerra no oprime virtualmente. Entre as tomadas de cena de La Bête Humanine, os fotógrafos, maquinistas, atores, técnicos, todos atordoados, se entreolham, balançam a cabeça, dão de ombros.

O sr. Hitler ficaria extasiado se soubesse o quanto nos incomoda. Pessoalmente, eu me recuso a dar ao Führer a satisfação de não esquecê-lo. Não permitirei que a hostilidade por ele influencie minhas ações ou pensamentos.

Trata-se, portanto, de uma questão pessoal entre Hitler e mim. Se milhares de homens assim considerarem essa ameaça, o flagelo da guerra não se abaterá mais uma vez sobre a humanidade.

Porque sou pacifista, realizei "A Grande Ilusão". Para mim, um francês, um americano e um alemão autênticos são verdadeiros pacifistas. Um dia verá em que os homens de boa vontade encontrarão uma base de acordo. Os céticos dirão que no momento atual minhas palavras revelam uma confiança pueril. Mas por que não? Por mais incômodo que seja, Hitler não modifica em nada minha opinião sobre os alemães.

[...]

"A Grande Ilusão" é a história de pessoas como você e como eu, perdidas na pungente aventura que se chama guerra. A questão que se apresenta hoje ao nosso mundo angustiado parece muito com a de Spaak, e com a que enfrentamos ao preparar este filme. É por isso que "A Grande Ilusão" parece ser um filme de intensa atualidade..."


(texto presente no livro "escritos sobre cinema" de Jean Renoir)