quinta-feira, 16 de abril de 2015

Eisenstein - Como me tornei diretor


"Foi há muito tempo.

Há mais de trinta anos.

Mas me lembro como se fosse ontem.

Quero dizer: a história de meu primeiro contato com a arte.

Duas impressões diretas, dois acontecimentos marcantes decidiram minha vida nesse setor.

Primeiramente Turandot, na montagem de Komissarjevski (excursão do teatro Nezlobin a Riga em 1913).

O teatro iria, daí por diante, tornar-se para mim o objeto de cuidados especiais e de paixão furiosa.

Nesse período, sem qualquer intenção ainda de ocupar-me pessoalmente de teatro, eu me preparava tranquilamente para seguir os passos de meu pai - a carreira de engenheiro de obras públicas - e para isso empenhava-me desde meus primeiros anos.

O segundo acontecimento, este ultimo poderoso, definitivo, que cristalizava já minha determinação implícita de abandonar as construções para me "consagrar" à arte, foi Mascarada, no ex-teatro Alexandra.

Mais tarde agradeci ao destino por ter-me infligido aquele embate num momento em que eu já tinha terminado a totalidade dos meus exames de Matemática, incluindo cálculo integral e diferencial do que, hoje em dia - como também de outras matérias - de nada mais me lembro.

Foi graças a essa matéria, entretanto, que se formou o meu gosto pelo pensamento racional, meu amor pela exatidão 'matemática' e pela clareza.

Saído da Escola do gênio civil, para o turbilhão da guerra civil, imediatamente queimei meus projetos do passado.

Não foi à Escola que eu voltei; cabisbaixo, precipitei-me no teatro.

No primeiro teatro proletário do Prolekult. Inicialmente como cenógrafo.

Depois, como diretor de cena.

E, a seguir, sempre com o mesmo conjunto e pela primeira vez em minha vida, como diretor de cinema.

Isso não é o essencial.

O essencial é que a minha atração pela carreira misteriosa denominada arte era invencível, voraz, insaciável. Nenhum sacrifício me amedrontava."

(EISENSTEIN, em Reflexões de um cineasta, tradução de Gustavo A. Doria, editora Zahar, 1969, p. 11 - 12)

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