quarta-feira, 11 de março de 2015

A morte todos os dias - André Bazin

Texto escrito para os Cahiers du cinéma na ocasião do lançamento de A corrida de toros de Pierre Braunberger.

"A experiência do teatro filmado - e o seu fracasso quase total, até aos êxitos recentes que renovam o problema - fez com que tomássemos consciência do papel da presença real. Sabemos que a filmagem do espetáculo não faz mais do que restituí-lo esvaziado de sua realidade psicológica: um corpo sem alma. A presença recíproca, o confronto em carne e osso de espectador e ator, não é uma mera circunstância física, mas um tato ontológico constitutivo do espetáculo como tal. Partindo desse dado teórico bem como da experiência, poder-se-ia inferir que a tourada é ainda menos cinematográfica do que o teatro. Se a realidade teatral não se imprime à película, o que dizer então da tragédia tauromáquica, da sua liturgia e do sentimento quase religioso que a acompanha? Sua filmagem pode possuir valor documental ou didático, mas poderia ela restituir-nos o essencial do espetáculo: o triângulo místico homem-animal-multidão?"

Bazin, In: Morte todas as tardes, publicado em português na coletânea A experiência do cinema, organizada por Ismail Xavier.

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